Aproveitamento de argilas de áreas de lavra ambiciosa na massa de cerâmica vermelha no sul de Santa Catarina

Abstract

A indústria de cerâmica vermelha está entre as mais tradicionais do mundo, para fabricação de insumos para construção civil (tijolos, blocos, telhas etc.), os quais usam como matéria-prima base a argila. Muito embora a mineração do material argiloso não seja tão impactante ambientalmente, um problema que vem sendo verificado em jazidas de argila, é a “lavra ambiciosa”, que é uma irregularidade previsto em lei, no código brasileiro de mineração. Esta prática está associada ao não aproveitamento total do bem mineral, quando não apresenta propriedades comumente procuradas pelo minero-ceramista. O conhecimento das características das argilas, pode ser determinante para o melhor aproveitamento das frentes de lavra, por meio do uso total do material minerado, através de blends que trazem qualidades para o produto cerâmico, exigidas por norma técnica. O presente estudo tratou de estudar duas diferentes áreas, da região sul de Santa Catarina, onde se identificou o problema de lavra ambiciosa. Para um estudo mais adequado, uma argila plástica foi incluída para realização de formulações na produção de tijolos cerâmicos. Ambas argilas foram caracterizadas por análises químicas (fluorescência de raios-X) e mineralógicas (difração de raios-X). A distribuição granulométrica foi determinada por difração a laser e a plasticidade foi avaliada pelos métodos de Pfefferkorn e Atterberg. Ao todo, dez formulações foram desenvolvidas pelo método de delineamento de misturas, onde foram investigadas o teor de resíduo bruto, obtido por peneira #325 mesh. Em seguida, corpos-de-prova foram formados por extrusão, secos em estufa (50 a 100ºC), queimados em forno mufla (900ºC) e caracterizados por sua retração térmica linear (na secagem e queima), absorção de água e resistência à compressão. Uma das argilas apresentou deficiências de trabalhabilidade, ocasionando problemas na extrusão, sendo quebradiça durante a moldagem. A segunda argila se mostrou altamente arenosa, com teores de “sílica livre” >60%, o que também afetou o corpo cerâmico. Com base nos resultados tecnológicos, conclui-se que o emprego da argila com deficiência de trabalhabilidade em até 45% acarretou no aumento da absorção de água, ultrapassando os limites estabelecidos por norma. O uso da argila mais silicosa auxiliou no controle dimensional, porém seu emprego em elevados teores diminuiu a resistência mecânica. Com isso, utilizar ~80% das argilas de lavra ambiciosa (combinadas) afeta na resistência mecânica ao ponto de ficar abaixo do limite proposto por norma técnica. Porém, se usadas em teores controlados, essas argilas podem ser incorporadas na massa cerâmica e utilizadas na produção de blocos e tijolos, melhorando algumas propriedades como o controle geométrico, por exemplo. Por fim, por meio da verificação da disponibilidade das argilas, comprovou-se que há uma disponibilidade de 280.000 m3 desses materiais nas áreas de estudo, o que amplia a vida útil das jazidas em até 16 meses, porém, para que haja um aproveitamento total dessas e até mesmo de outras áreas é indispensável a criação de uma central de massa para uso cooperativo.