A patologização da educação: a práxis do psicólogo no contexto educacional diante das dificuldades escolares

Abstract

O presente estudo compreende a patologização da educação a partir da práxis do psicólogo, no contexto educacional, diante de alunos identificados com dificuldades escolares. Para abordar a temática, é preciso entender algumas questões de políticas públicas que circundam o profissional no contexto educacional: a falta de uma clareza na atuação; a dificuldade de estabelecer o papel do psicólogo escolar em relação ao seu quefazer; e os limites de uma educação para a consciência crítica e emancipadora dos sujeitos. Dessa forma, a problemática consiste em compreender: qual a práxis do psicólogo, no contexto educacional, diante de alunos identificados com dificuldades escolares? Para tanto, foram elaborados os objetivos específicos: analisar as estratégias utilizadas pelas psicólogas na avaliação de aluno em situação de dificuldades escolares; verificar quais são os encaminhamentos que o psicólogo faz a partir de sua avaliação e conhecer os tipos de intervenções que o psicólogo utiliza com os alunos diante das dificuldades escolares. Como suporte teórico-metodológico, adotou-se a teoria da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire e a Psicologia da Libertação de Ignácio Martín-Baró, para investigar como é a práxis das profissionais diante de alunos identificados com dificuldades de aprendizagem. Participaram da pesquisa três psicólogas vinculadas à Secretaria Municipal de Educação da cidade de Criciúma/SC. Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos: Roteiro de Entrevista Semiestrutura e o Grupo Focal, ambos foram realizados via Plataforma Google Meet devido à pandemia da Covid-19. Após a análise dos conteúdos, foram classificadas algumas categorias: estratégias de avaliação; encaminhamentos; intervenções e dificuldades escolares. Os resultados encontrados foram: as atividades das psicólogas entrevistadas compreendem a aplicação da Escala WISC; a formação dos profissionais da educação; a capacitação junto ao projeto político pedagógico e as assessorias pedagógicas para sanar algumas situações de urgências solicitadas pelas escolas. Evidencia-se uma crítica das profissionais sobre a patologização na educação, todavia, também se evidencia que sua práxis se desenvolve dentro desta mesma lógica, principalmente porque as escolas se subordinam ao protagonismo das profissões de saúde, em especial aos médicos, nos assuntos referentes às dificuldades escolares. A atuação das psicólogas se dá na lógica dos laudos, diagnósticos, encaminhamentos para profissionais de saúde, caracterizando uma estrutura na qual se torna difícil fazer valer suas críticas à patologização. Acredita-se que cada criança e adolescente que recebe um laudo justificando as queixas escolares transforma a escola em um ambiente de patologização e medicalização, portanto, não se resolvem os problemas de fato relacionados ao processo do não aprender. Evidencia-se a necessidade de mais estudos a respeito da problemática estudada para a contribuição do entendimento da práxis da psicologia escolar a partir da realidade brasileira e latino-americana. E conclui-se que há obstáculos para a vivência de uma práxis da psicologia libertadora e transformadora.