Saúde mental dos profissionais da Secretaria Municipal de saúde de Balneário Gaivota/SC durante a pandemia de COVID-19

Abstract

Introdução: a pandemia por Sars-Cov-2 trouxe de modo geral grandes mudanças e impactos na vida das pessoas; em se tratando dos profissionais da saúde tais impactos tomaram uma proporção ainda maior, enfrentando sentimentos de incerteza. Com a exposição ao vírus e os riscos envolvidos, torna-se inevitável que estes estejam vulneráveis a questões emocionais, por lidarem diariamente com sentimentos de impotência, fracasso, estresse, pela sobrecarga de trabalho, incertezas acerca do coronavírus e seu tratamento, medo de se contaminar e de transmitir o vírus e dificuldades de lidar com perdas. Objetivo: avaliar a saúde mental dos profissionais durante a pandemia de Covid-19 em um município do sul do Brasil. Métodos: trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa, realizado com os profissionais de diversas áreas de atuação da Secretaria Municipal de Saúde de Balneário Gaivota - SC, durante o mês de outubro de 2022. Foram contatados todos os profissionais elegíveis para fazerem parte do estudo e realizado agendamento prévio para responderem ao questionário em seus respectivos locais de trabalho. Foi respeitado o distanciamento, uso de álcool 70% e de máscara durante as entrevistas que ocorreram de forma presencial. Análises descritivas das variáveis de saúde mental estudadas (sintomas depressivos, estresse, sentimento de tristeza, ideação suicida e medo) bem como as características sociodemográficas e comportamentais dos profissionais foram apresentadas através das frequências absoluta (n) e relativa (%). Para as análises brutas da associação entre saúde mental e as variáveis sociodemográficas e comportamentais foi utilizado teste Exato de Fisher, considerando nível de significância de 5%. Resultados: a maioria dos profissionais tinha idade menor de 40 anos de idade (40,3%), era do sexo feminino (63,9%), de cor de pele branca (87,5%), casado(a) e/ou união estável (50,0%) e residia na área urbana do município (93,1%). Além disso, mais da metade dos entrevistados recebiam, pelo menos, 4 salários mínimos (52,8%). A prevalência de sintomas depressivos foi de 50%, o estresse esteve presente em 36,1% dos profissionais, já o sentimento de tristeza e o medo associado à Covid-19 foi referido por 1 a cada 5 entrevistados (19,4%). Além disso, 15,3% apresentaram ideação suicida. Também foi observado que um terço fazia uso de psicotrópicos (31,9%) e que o consumo de álcool esteve presente em 61,1% dos indivíduos; destes, 38,6% reportaram aumento do consumo no período pandêmico. A associação entre os sintomas relacionados à saúde mental e as variáveis independentes estudadas demonstrou que os sintomas depressivos foram mais prevalentes entre o sexo feminino (p=0,004). Ademais, a variável área de residência apresentou associação com a ideação suicida (p=0,023), ou seja, os profissionais que residiam na área rural do município apresentaram maior prevalência de ideação suicida do que os que residiam na área urbana (60,0% vs 11,9%). As demais variáveis estudadas não se mostraram associadas à saúde mental dos profissionais. Conclusão: foi possível constatar que a pandemia de Covid-19 trouxe impactos na saúde mental dos profissionais estudados, bem como nas variáveis comportamentais. Diante dos impactos deixados pela pandemia e a necessidade de suporte a estes profissionais, torna-se necessária a criação de políticas públicas voltadas ao cuidado integral dos profissionais com ênfase nos principais problemas observados, como sintomas depressivos e estresse.