Relação entre saúde mental e alteração de peso corporal na população de Siderópolis-SC durante a pandemia da COVID-19

Abstract

Introdução: As dinâmicas de isolamento e distanciamento social foram aplicadas em vários países durante a pandemia de Covid-19. A mudança brusca de rotina relacionada com as instabilidades do cenário pandêmicos resultou no aumento da ocorrência de desordens psicossociais, modificando os padrões alimentares, visto que o consumo de alimentos que trazem conforto está ligado à redução dos sentimentos negativos, resultando no aumento da ingestão calórica e ganho de peso. Objetivo: Avaliar a associação entre os aspectos de saúde mental autorreferidos e percepção de alteração de peso corporal da população do município de Siderópolis durante a pandemia da Covid-19. Métodos: Trata-se de um estudo transversal de base populacional realizado no município de Siderópolis, Santa Catarina, no ano de 2020. Foram estudados indivíduos residentes neste município, com idade igual ou superior a 18 anos. Utilizou-se um questionário contendo dados sociodemográficos, comportamentais, de saúde mental, percepção corporal, acesso aos serviços de saúde e sintomatologia da Covid-19. O desfecho analisado foi a percepção de alteração de peso corporal, e as variáveis de exposição foram as características sociodemográficas, comportamentais e os aspectos de saúde mental (sintomas autorreferidos de ansiedade, tristeza, choro, depressão e nervosismo, sendo considerado como sintoma de saúde mental a presença de, pelo menos, um sintoma). Inicialmente foi feita uma descrição da amostra apresentando as proporções das variáveis independentes. Em seguida foi calculada a prevalência do desfecho de acordo com as variáveis independentes, apresentando os respectivos intervalos de confiança (IC95%), utilizando o teste Qui-quadrado para diferenças de proporções. Regressão de Poisson bruta e ajustada foi utilizada para avaliar associação entre saúde mental e alterações de peso corporal. Para a análise ajustada foi utilizado um modelo hierárquico e foram consideradas as associações com p < 0,05. Resultados: Foram estudados 609 indivíduos. Observou-se prevalência de 66,5% de sintomas de saúde mental, sendo predominante nas mulheres, bem como nos que referiram realizar menos atividade física e que relataram problemas no sono durante a pandemia. Observou-se aumento de peso corporal durante a pandemia, principalmente entre as mulheres, os que possuíam maior escolaridade, que tinham cor de pele preta e os desempregados. Os sujeitos que relataram a presença de sintomas de saúde mental tiveram uma prevalência 1,85 vezes (IC95% 1,34-2,55) maior de percepção de aumento de peso corporal quando comparado aos indivíduos sem sintomas. Conclusão: Cenários como da pandemia da Covid-19, aumentam a ocorrência dos sintomas de saúde mental estando esses associados ao consumo excessivo de alimentos, sobretudo açúcares e gordura, para a supressão dos sintomas negativos, tendo por consequência o aumento de peso. Tais evidências reforçam a necessidade de ações e/ou políticas públicas que amparem a população durante o período pós-pandemia, buscando estratégias de promoção de saúde para evitar a potencialização do aumento de peso corporal e auxiliar na melhoria das condições de saúde mental.