Gripe espanhola (1918-1919): análise da gestão da epidemia no estado de Santa Catarina

Abstract

Introdução: No ano de 1918, durante o fim da Primeira Guerra Mundial, iniciou-se a Pandemia de Gripe Espanhola, primeira pandemia do século XX, que determinou profundas mudanças políticas, econômicas e sociais em diferentes países. No Brasil, a epidemia de Gripe Espanhola ocorreu entre 1918-1919, desconhecendo-se até hoje o total de óbitos pelo evento. Evidenciou-se, segundo a literatura, a negligência por parte das autoridades quanto ao reconhecimento e enfrentamento inicial da epidemia, o desconhecimento da comunidade científica de seu agente causador e tratamento efetivo, além do colapso das estruturas de saúde pública existentes na época. Objetivo: analisar, a luz da história, como se efetivou a gestão da pandemia de influenza de 1918, tanto pelas autoridades em saúde, quanto pela população nas cidades portuárias de Itajaí, Florianópolis e Laguna em Santa Catarina. Método: trata-se de uma pesquisa sócio-histórica, de análise documental e abordagem qualitativa, a qual utilizou como fontes documentos expedidos pelo Governo do Estado de Santa Catarina (Secretaria do Interior de Justiça, Departamento de Higiene do Estado), jornais de circulação no Estado de Santa Catarina e documentos de organizações da sociedade civil, datados entre 1918-1920. Os locais de coleta de dados foram acervos públicos em três cidades portuárias de Santa Catarina. Os dados foram organizados no aplicativo Mendeley Reference Manager 2.67.0, por fonte, data e descritores. A análise documental foi realizada com base na perspectiva da micro-história. Resultados: estão organizados em três capítulos: 1. “A Pandemia de 1918”, este capítulo apresenta aspectos epidemiológicos da pandemia, o significado histórico da gripe espanhola e como a pandemia se apresentou no Brasil e, em especial, em Santa Catarina; 2. “Aspectos organizacionais e gerenciais do combate à epidemia”, neste capítulo estão descritos a Organização da Diretoria Geral de Saúde Pública em âmbito nacional, o Departamento de Higiene de Santa Catarina, e, o Regulamento de Higiene de Santa Catarina para o combate à epidemia; 3. “Gestão do Cuidado da Gripe Espanhola em Santa Catarina”, este capítulo apresenta como foram tratados os primeiros casos de gripe no estado, como ocorreu a resposta dos gestores, profissionais e da população a epidemia, e, como ocorreu a organização das estruturas de atenção à saúde para o cuidado às pessoas. Conclusão: conclui-se que o Governo do Estado de Santa Catarina se organizou diferentemente de outros locais do país para lidar com epidemia de gripe de 1918, criando hospitais de isolamento e financiando comissões de socorros no Estado. Nos municípios estudados, a gestão das ações em saúde no período ocorreu por meio da articulação (em diferentes medidas), entre o governo do estado e as elites locais dos municípios. Destacou-se o papel das mulheres das elites locais na organização da atenção à saúde e nas ações de cuidado à saúde. Não há dados precisos sobre o efeito das ações de atenção a população e sobre o perfil epidemiológico da epidemia de gripe no Estado. Destaca-se a relevância do presente estudo como subsídio para futuras pesquisas que poderão analisar de forma comparativa como ocorreu a gestão de grandes epidemias em Santa Catarina.