Turismo étnico e suas implicações: políticas públicas e territorialidades em Nova Veneza - SC (1991 - 2021)

Abstract

Em Nova Veneza - SC, a partir do século XXI, utilizando-se da etnicidade italiana atrelada à colonização europeia em seu território, o turismo tornou-se uma atividade emergente. Neste contexto, a sede municipal passou por diversas intervenções urbanísticas comandadas pelo poder público, entre estas destacam-se a introdução da gôndola Lucile na praça central Humberto Bortoluzzi, a construção de uma rua coberta e uma passarela anexada a ponte localizada sobre o rio Mãe Luzia, intitulada Ponte dei Morosi. Todos estes novos atrativos, foram acompanhados pela busca em cimentar a imagem de Nova Veneza, como sendo a capital da gastronomia típica italiana no Brasil, objetivo alcançado pelo Projeto de Lei 2.042/2015, aprovado em 2017. Diante disso, o setor gastronômico e hoteleiro se ampliou, principalmente nos entornos dos principais atrativos da cidade, caracterizando uma grande concentração de empreendimentos em uma pequena fração do território. Estas mudanças supervalorizam a região central, em detrimento dos demais bairros e distritos, fazendo surgir a problemática: como ocorreu o processo de turistização da italianidade em Nova Veneza, bem como, de que forma as políticas voltadas para o turismo, dialogam com os posicionamentos da população local nas consultas para a revisão do plano diretor municipal? O presente estudo objetiva de maneira mais ampla, estabelecer uma análise sobre a implementação da atividade turística no Município de Nova Veneza a partir de questões étnico-identitárias, para compreender de que forma o setor tem contribuído para o desenvolvimento socioeconômico de sua população. Alguns autores nos ajudam discutir sobre os conceitos chave inerentes à temática, destacando-se: as tradições inventadas, de Eric Hobsbawm (2018); as etnicidades de Philippe Poutignat e Jocelyne Streiff-Fenart (1998); as identidades pós-modernas, em Stuart Hall (2006) e Zygmunt Bauman (2001; 2005); o Turismo a partir de Mário Carlos Beni (1990) e Margarita Barretto (2007); assim como, a dinâmica dos territórios em meio a políticas neoliberais, David Harvey (2008), Milton Santos (1994) e Cassia Cruz (2000). Dialoga-se à revisão da bibliografia a análise das fontes, entre as quais estão o uso das falas de figuras ligadas ao turismo em Nova Veneza, os documentos que norteiam as ações turísticas a nível nacional e local, a consulta de notícias e materiais produzidos sobre o turismo no Município, bem como as opiniões dos moradores nas consultas públicas realizadas para a revisão do Plano Diretor, ocorridas em 2021. Foi possível constatar que a etnicidade exposta no turismo em Nova Veneza segue um padrão das cidades étnicas turísticas contemporâneas, que diante da entrada massiva de descentralização administrativas nas políticas do turismo, encontram nas identidades étnicas uma fonte para que grupos específicos comercializarem um produto, assim como nos demais setores da economia. Ficando a cargo do poder público, apenas o papel de angariar constantes novos atrativos, como forma de promover a entrada de novos clientes, sem haver a preocupação com planejamentos a longo prazo. Desta forma, o centro da cidade se caracteriza atualmente como uma “Ilha Turística", descrita por Maria Bernardete Flores (1997), constatação esta que foi fortemente levantada pelos próprios moradores na consulta pública. No entanto, a partir de 2021, diante dos impactos sofridos pelo setor durante a pandemia de covid-19, os discursos a nível municipal ensaiaram novos rumos, com a busca pela profissionalização dos agentes envolvidos com o setor e pela espacialização da atividade, conferindo aos moradores locais a importante tarefa de acompanharem de perto o processo, para que busquem espaço de protagonismo sobre a representação de sua etnicidade e do próprio turismo realizado.