“Ela orientava muito e também falava de como nós deveríamos nos comportar”: Irmã Norberta Ognewski e os preceitos para uma educação feminina no extremo sul de Santa Catarina (1937 - 1999)

Abstract

A tese teve como objetivo compreender os aspectos da trajetória da Irmã Norberta Ogniewski, membro da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora – Iens, no município de Forquilhinha/SC, local onde Irmã Norberta atuou como religiosa e educadora durante 62 anos, entre os anos de 1937, quando chegou da Alemanha, até seu falecimento, em 1999. Além disso, a pesquisa contextualizou a atuação da Irmã Norberta no cenário mais amplo da formação da Congregação das Iens, na Alemanha, nos séculos XVIII e XIX, e a formação dos núcleos coloniais alemães no Sul do Brasil no século XIX. A tese, inserida no campo da História da Educação e da História das Mulheres, que está circunscrita à perspectiva da vertente da Nova História Cultural, analisou, por intermédio das fontes documentais e das fontes orais, perspectivas de pessoas que tiveram contato com a Irmã Norberta, seja como professora nas instituições de ensino das Iens, seja na Igreja Católica ou em outros setores da comunidade de Forquilhinha. A metodologia empregada para a realização dessa investigação envolveu uma pesquisa de abordagem qualitativa, com análise de documentos, sendo também utilizada a metodologia da História Oral (Alberti, 2009) para realização das entrevistas com os sujeitos que tiveram contato com a Irmã Norberta durante a sua atuação como professora nas instituições de ensino das Iens, na Igreja Católica e em outros setores da comunidade de Forquilhinha/SC. Ao todo, foram entrevistadas nove pessoas entre setembro de 2021 e junho de 2022, que cujas entrevistas foram transcritas, tematizadas e analisadas. Os documentos mobilizados, como fontes da pesquisa, pertencem ao acervo pessoal da Irmã Norberta e ao acervo escolar do Colégio Sagrada Família, bem como os documentos de acervo pessoal das entrevistadas e dos entrevistados. O estudo se baseou em conceitos como de memória, na perspectiva de Michael Pollak (1989/1992), de biografia, em diálogo com os escritos de Pierre Bourdieu (2006) e Benito Bisso Schmidt (2018), de cultura escolar, com Antonio Viñao Frago (1995/2002/2001), de arquivos escolares, com Maria João Mogarro (2006), de arquivos pessoais e institucionais, com Philippe Artiéres (1998), Luciana Quillet Heymann (2012), Ângela de Castro Gomes (1997), Arlette Farge (2009). Heloísa Liberalli Bellotto (1991), Ana Chrystina Venancio Mignot (2006), Maria Teresa Santos Cunha (2006) e de gênero, como categoria de análise na perspectiva de Joan Scott (1995/1998), Margareth Rago (2018), Carla Bassanezi Pinsky (2019), Michelle Perrot (2009), Guacira Lopes Louro (1997/1994/2020), Miriam Pillar Grossi (2020), dentre outras autoras e autores, os quais contribuíram para tecer a narrativa da tese. A pesquisa estuda a trajetória da Irmã Norberta, que, além de ser uma religiosa, foi uma mulher que ocupou um lugar de destaque no espaço público de Forquilhinha, atuando na educação escolar e na assistência social da comunidade, contribuindo significativamente para a difusão de um modelo de educação feminina pautado no controle dos corpos e das mentes. A tese evidenciou que a biografia da Irmã Norberta não pode ser compreendida em sua totalidade pela imensidão de aspectos plurais que compõem sua trajetória. Porém, as aproximações realizadas sobre essa religiosa, professora e mulher permitiram reconhecer a formação de muitas outras mulheres, religiosas ou não, que foram atravessadas pelos seus ensinamentos. Ensinamentos esses que foram reproduzidos ou (re)significados, mas que, ao serem acessados na construção da memória, foram evocados pelas memórias dos sujeitos da pesquisa.