Associação entre o ambiente alimentar e o consumo de alimentos na população adulta e idosa do município de Criciúma - SC: um estudo de base populacional

Abstract

Introdução: O ambiente alimentar em que a pessoa está inserida pode influenciar os seus hábitos alimentares, visto que a acessibilidade e a proximidade aos estabelecimentos podem exercer influência no poder de escolha dos alimentos e no comportamento alimentar. Sendo assim, o ambiente pode impactar de forma positiva ou negativa no estado de saúde da população, e consequentemente, contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas aos hábitos alimentares, que geram custos elevados para a sociedade e para os sistemas públicos de saúde. Objetivo: Avaliar a influência do ambiente alimentar no consumo alimentar da população adulta e idosa de Criciúma. Métodos: Trata-se de um estudo transversal realizado com dados derivados da pesquisa de base populacional chamada Saúde da população criciumense, desenvolvida no ano de 2019. Foram estudados indivíduos de 18 anos ou mais moradores da área urbana do munícipio de Criciúma/SC e foi aplicado questionário com informações sociodemográficas, comportamentais, antropométricas e de saúde. Consumo regular (5 vezes ou mais na semana) de alimentos marcadores de uma alimentação saudável e não saudável foi a variável dependente, e como variáveis independentes foram estudados os locais de venda próximos à residência dos entrevistados. Para as análises brutas e ajustadas foi utilizado o Teste Qui-quadrado de Pearson e Regressão de Poisson. Foi construído um modelo hierárquico para a análise ajustada. Além disso, foi avaliado o recebimento de orientação nutricional como modificador de efeito da relação entre locais de venda e consumo alimentar. Resultados: Foram estudados 820 indivíduos, sendo a maior parte do sexo feminino (63,8%), com idade igual ou superior a 60 anos (45,0%), de cor de pele branca (82,5%) e casado/união estável (60,4%). O consumo de alimentos não saudáveis foi mais frequente no sexo masculino (p=0,008), entre indivíduos com 18 e 29 anos de idade (p=0,001), solteiros (p=0,001), que não possuíam trabalho (p=0,001), com mais de doze anos de escolaridade (p=0,013) e que não faziam uso de álcool (p=0,003). Em relação aos pontos de venda de alimentos, os indivíduos que moravam próximos a locais de venda de frutas, legumes e verduras apresentaram 34% (IC95% 1,11;1,62) mais probabilidade de consumir alimentos saudáveis quando comparado àqueles que não possuíam locais de venda de frutas, legumes e verduras próximos as suas residências. Indivíduos que receberam orientação nutricional no último ano, independente de residir próximo a ambientes alimentares saudáveis, apresentaram maior probabilidade de consumir alimentos marcadores de uma alimentação saudável. Conclusão: O ambiente alimentar e o recebimento de assistência nutricional influenciam o consumo alimentar da população. Sendo assim, o presente estudo pode contribuir de forma significativa para a elaboração de políticas públicas de saúde que atuem no fortalecimento de ações e estratégias de educação nutricional para a conscientização e autonomia das pessoas sobre seus hábitos alimentares, proporcionando assim, promoção de saúde e prevenção de agravos e doenças relacionadas à alimentação e nutrição. Além disso, as políticas públicas e ações relacionadas à promoção de saúde devem encorajar mudanças individuais, bem como mudanças na sociedade e no ambiente em que as pessoas vivem e trabalham, a fim de proporcionar escolhas e estilos de vida mais saudáveis.